segunda-feira, 3 de março de 2014

DECIFRA-ME



Talvez o pior sintoma comum a todos os tipos de distúrbios neurológicos conhecidos seja a sensação de inadequação. Preste atenção ao uso da palavra "comum". Cada um traz sintomas muito ruins e consequências desastrosas para a vida de seus portadores. Mas todos, quer tenham sido diagnosticados como portadores de TDAH (ou DDA), ou bipolaridade, ou Asperger, etc... com quaisquer comorbidades que possam ter (o que multiplica a já grande variedade destes distúrbios) relatam uma dor em comum: a de sentirem-se "alienígenas", "por fora", "incompreendidos", ou, como eu digo, "orbitando em torno do planeta". 

O ser humano é gregário por natureza. Tão importante para nossa sobrevivência quanto alimentação ou abrigo, é a nossa necessidade de empatia, de participação, de aceitação por parte do nosso grupo. Não estamos sozinhos quando o assunto é socialização e afeto. Todos os grandes mamíferos, cujas sociedades são mais elaboradas, apresentam a mesma necessidade. Há pouco tempo li uma matéria sobre um potro recém-nascido que mesmo mantido alimentado, limpo e aquecido, estava definhando. Quando colocaram um grande urso de pelúcia para que ele pudesse dormir encostado, ele começou a melhorar. Faltava aconchego. 

A socialização não apenas garante a nossa sobrevivência através de seus desdobramentos como solidariedade, troca de informações úteis, proteção, etc, como nos provê as doses diária de afeto que precisamos para estar equilibrados e bem. Basta lembrar dos efeitos de um abraço, graças à liberação da ocitocina, hormônio responsável por, entre outras coisas, criar vínculos afetivos e ajuda a baixar a pressão arterial, além de combater a adrenalina e o cortisol (hormônio do estresse). 

Sabemos que quanto mais próximo nosso grau de parentesco/intimidade com a pessoa, maior nossa necessidade de compreende-la e de ser compreendido por ela também. Maior nossa necessidade de interação afetuosa com esta pessoa. 

E o problema da inadequação reside exatamente aí: quando não somos compreendidos, nossas dificuldades são avaliadas de formas errôneas e podemos ser considerados preguiçosos, burros, ingratos, frios, agressivos, egoístas, chatos, inconvenientes, mimados, etc. E se nossos entes queridos nos olham assim, como teremos "clima" para momentos de carinho e aconchego? Ou mesmo para diálogos ou atividades compartilhadas?

No way.

Por isso é vital que nossos familiares, cônjuges, amigos e quem mais se habilite a conviver "de perto" conosco tenha a disposição de conhecer a fundo nosso quadro. Acredito que quanto mais informação, mais aceitação.  É difícil? É. Mas vale a pena. Muitas vezes é o que falta para a família viver em maior harmonia, para os conflitos se resolverem. Além, claro, de uma grande disposição para amar na prática, perdoando, conversando, estabelecendo metas e oferecendo ajuda para o cumprimento destas. 

 A família agradece.

Referências:
http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2013/06/05/potro-abandonado-confortado-por-urso-de-pelucia-499082.asp
http://revistapaisefilhos.uol.com.br/na-midia/potro-orfao-adota-urso-de-pelucia-como-mae 

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