quarta-feira, 4 de julho de 2012

Drama para conseguir consultas!

Talvez a maior dificuldade não-relacionada a condição neurológica que os portadores de TDAH enfrentam seja conseguir atendimento médico e receitas. As filas de espera de meses, os profissionais despreparados e o controle rigoroso do governo sobre a medicação dificultam tudo.
A última coisa eu até entendo e não sou de todo contra.
E sei que as duas primeiras estão interligadas: quanto menor o número de médicos psiquiatras e neurologistas que verdadeiramente conhecem o distúrbio, maior a fila de espera para marcar uma consulta com eles. Já passei por médicos de todos os tipos: os que conheciam o TDAH mas que não se importavam, os que se importavam mas não conheciam e os que não conheciam e nem se importavam.
Os três piores foram do primeiro tipo.
Um deles conhecia o TDAH e sabia que muito frequentemente o portador é "hipersexualizado", e por isso resolver dar em cima de mim com perguntas inconvenientes sobre minha vida sexual.
Outro admitiu que "deu uma pincelada por cima na faculdade", e que "estava aprendendo muito" comigo, e resolveu testar vários remédios em mim para ver o que aconteceria, como se eu fosse uma cobaia!
E o outro, o último que procurei, semana passada, esqueceu que como todo bom TDAH (nós demoramos para assimilar um novo comportamento, mas uma vez assimilado, dificilmente alteramos aquela rotina, fazemos até mecanicamente) eu não interromperia minha medicação para fazer um novo eletroencefalograma a não ser que ele me lembrasse de fazer isso! Ele não fez a parte dele, eu não fiz a minha (lembrei sozinha quando faltavam 15 horas para o exame), e o resultado foi "normal" na maior parte das reações de meu cérebro. No retorno eu falei com todas as letras "Mas doutor, saiu 'normal' por eu ainda estava sob efeito da medicação, o senhor esqueceu de me avisar para interromper 24 horas antes!" Sabem o que ele fez? Nada! Ou melhor... continuou escrevendo, tirou um xerox da carta de encaminhamento do meu último neurologista, assinou minha ficha, devolveu meu exame e sem olhar para mim foi dizendo "Você deveria estar feliz, não tens problema nenhum!". Em seguida estendeu a mão e se despediu de mim. Saí atônita!
Eu me trato com cloridrato de metilfenidato há 10 anos. Não funciono sem ele. Mas cada vez que me mudo de cidade é esta mesma novela até encontrar um médico que conheça TDAH/DDA, seja humano, se importe e tenha espaço para mim na sua agenda.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Hobbies!

Agora que estou mais adaptada à minha nova cidade, e - por que não dizer - minha nova vida, resolvi voltar a fazer algum tipo de artesanato. Amo ponto cruz desde pequena, e já retomei este hobby. Estou finalizando uma toalha de copa bem fofa, quando estiver pronta posto a foto aqui.
Sempre tive curiosidade por scrapbooking, mas nunca tive tempo para dedicar-me a aprender. Mas como a minha vida está mais sossegada, resolvi desenterrar esta idéia. Como qualquer artesanato, o scrapbook é uma delícia de fazer, e só precisamos tomar cuidado com alguns detalhes para que ele tenha um bom acabamento e saia caprichado! Eis meu primeiro cartão feito com esta técnica:

E então? Ficou bom?
Estou aberta a opiniões e sugestões, quero muito aprimorar minha técnica. Um abraço a todos!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Antes do diagnóstico de TDAH...


Conversando com uma pessoa que está começando agora a medicar-se com Ritalina, comecei a lembrar de como era a Kátia antes de seu tratamento...

Desde pequena, muitos anos antes de saber que existe o Transtorno do Déficit de Atenção, ou de imaginar que eu fosse portadora de algum distúrbio desta natureza, eu era simplesmente uma criança “diferente”. Eu era muito criativa, sonhadora e amava passar horas pensando, inventando histórias, desenhando, brincando e lendo. Lembro que quando eu ficava magoada meu consolo era fechar os olhos (se necessário, também os ouvidos), e “fugir” para meu mundo perfeito, rodeada de personagens – todos planejados detalhadamente por mim mesma. 

Aprendi a ler com 6 anos, e aos 8 já tinha bastante fluência. Foi nesta idade que li minha primeira enciclopédia, todos os 10 volumes, pulando apenas as partes de fórmulas químicas e físicas. Alias cálculo nunca foi meu forte, e mais tarde eu soube que uma de minhas comorbidades é a discalculia. Por outro lado, eu me apaixonei por História, Arqueologia, Antropologia, Arte, Biologia, Palenteologia e Mitologia. Também me embevecia com as Biografias, principalmente dos cientistas. Ficava fascinada com o fato de que as maiorias das grandes descobertas científicas surgiram de simples fatos do cotidiano. 

Lembro-me de ter ganhado um porta-joias lindo, todo de madeira, pintado com flores. Eu guardei nele um filme queimado (aqueles de fotografia), pincéis, pinças, potinhos e outros cacarecos mais, que compunham meu “estojo científico”. Mas eu amava bonecas também, claro. Eu brincava de Barbie, e a minha trabalhava em um museu de arqueologia, feito com barras de sabão azul, pedras, conchas, estrelas marinhas, pedaços de corais, etc. Lembro também de ter ficado realizada o dia em que encontrei um esqueleto de rato inteiro, faltando só o crânio. Eu o guardei em um vidro de café, com todo cuidado. Quem não gostou nada foi minha mãe, que o jogou fora sem dó nem piedade, alegando que eu poderia adoecer. Chorei por muitos dias, magoada com a “insensibilidade” dela.
Um dia eu assisti a um documentário que mostrava arqueólogos mergulhando no litoral mexicano, para ver cavernas com pinturas rupestres. Aquilo me encantou, e passei dias sonhando com os arqueólogos do futuro vindo estudar minha casa. Resolvi facilitar o trabalho deles, e comecei a coletar plantas, colar em folhas sulfite e anotar todos os dados de cada uma: nome popular, nome científico, tipo, gênero, espécie, família, etc. Aí eu colocava esta folha em um plástico e vedava com fita “durex”. 

Minha infância foi bem feliz. Na adolescência é que comecei, de fato, a me sentir diferente dos outros. Quando alguém perguntava sobre ator, cantor ou filme preferido, eu me dava conta de que não sabia quase nada sobre estes assuntos. Eu gostava dos cantores que meus pais ouviam, e assisti aos filmes que passaram em casa ou que me levaram para assistir, mas nunca tinha parado para pensar em qual me agradava mais e o porquê. Como todo adolescente, eu queria me enturmar e ser aceita, mas tive dificuldades e comecei a ficar cada vez mais braba e irritadiça. Talvez você uma forma de dizer: “Vocês não me querem? Ok, eu não preciso de vocês.” Eu me condoia com os rejeitados, e os defendia, e por isso aqueles que ninguém queria por perto acabaram se tornando minha turma. Por um lado isso era legal, mas por outro, a maioria deles não se interessava pelos meus gostos também, então eu continuava me sentindo só. Me sentia inadequada, apenas “orbitando” ao redor da sociedade. Sentia que não havia lugar e função para mim nesta terra. Com o tempo, passei a querer morrer. 

Quando eu estava com 20 anos de idade, um primo foi diagnosticado como portador de TDAH. Meu tio conversou com minha mãe e disse que via muitos sintomas de TDAH em mim também. Assim, depois de passar por 3 psiquiatras, 2 neurologistas e vários exames, comecei a tomar Ritalina.
Nos primeiros dias me senti mais ansiosa e irritadiça do que antes, e tremia mais do que um bambu verde. Mas logo meu organismo se acostumou, e os benefícios começaram a aparecer. Um dos primeiros foi a mudança de letra (?!?), que era feia e insegura e tornou-se redonda, firme e simétrica. Comecei a ficar mais tempo focada nas atividades cotidianas, e os períodos de hiperfoco foram ficando menores. Minha mãe diz que sou uma versão feminina de “Jekill and Hyde”, tal foi a minha transformação. 

De repente, comecei a prestar atenção nas pessoas ao meu redor. Tudo nelas era fascinante: gesticulação, expressões, tons de voz, histórias, reações, tudo! Era como se eu estivesse finalmente descobrindo o mundo. Eu saí de dentro de mim mesma e comecei a observar a sociedade. Então as músicas se tornaram interessantes, a moda, a arquitetura, as invenções científicas... Enfim, tudo o que a mente humana produz se tornou objeto de grande interesse para mim. Em poucos meses descobri o que as outras pessoas descobrem em anos, e logo escolhi cantores favoritos, logo decidi que filme me agrada mais, que lugares quero conhecer. Comecei a entender as pessoas, e a conseguir compartilhar dos gostos delas. Então comecei a querer fazer tudo que nunca tinha feito: sair para dançar, namorar, sair com amigos. Antes tarde do que nunca, né? 

Até hoje sinto que quase ninguém me conhece e me compreende completamente, mas isso não dói mais, porque já não me sinto uma alienígena como antes. É como se meu cérebro pudesse trabalhar em modo “social” (focado em coisas mais “normais”) quando estou com outras pessoas, ou em modo “eu mesma” (focado nas coisas que dão prazer só a mim mesma) quando estou sozinha. Com a diferença de que agora, depois de 10 anos de medicação, consigo dosar o tempo gasto com meus hobbies e o tempo necessário para cuidar das atividades diárias inerentes à vida de adulto. E estou indo bem!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Novo projeto!

Eu sempre gostei de ler e escrever. Por isso estou bem satisfeita com o novo projeto em que estou engajada, o portal evangélico Gospel Planet. Por enquanto minha participação lé é relativamente pequena, faço apenas a seleção das notícias e as traduções dos devocionais. Mas o retorno dos leitores já está sendo muito bom, nossa fan page cresce dia-a-dia e nosso alcance está cada vez maior. Acesse você também: www.gospelplanet.com.br. Conto com seu feedback! ;)

terça-feira, 27 de março de 2012

Saudade do meu sobrinho, meu menino, meu amor!

 Nicolas...


 "É só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De 'amor-perfeito'
E 'não-te-esqueças-de-mim'"

quarta-feira, 21 de março de 2012

Minha Colação de Grau (Uniasselvi - 10/03/12)


Nova vida!

Depois de meses apenas estudando e trabalhando (e adoecendo de puro stress, mas isso não vem ao caso agora), entrei um uma fase totalmente diferente em minha vida! Finalmente colei grau (Licenciatura em Pedagogia), e agora estou morando no Rio de Janeiro, com o homem que amo.

Foi uma reviravolta tremenda organizar minhas coisas, fazer a mudança, e correr atrás dos detalhes da formatura.

Isso sem mencionar o processo de adaptação à esta nova cidade e novo estilo de vida, que pelo visto torna-se mais pesaroso na medida em que envelhecemos. Outra cultura, outras cabeças, outros valores.

É complicado ter que rever seus conceitos assim, de "sopetão". Nos momentos de conflitos de idéias, tenho segundos para avaliar se aquele conceito que está sendo discutido é realmente digno de ser defendido ou se é melhor abandoná-lo em prol da manutenção da paz e do relacionamento. Ai entra em questão a preocupação em não deixar de ser eu mesma, e a tentativa de manter todos meus valores e prioridades em um equilíbrio saudável. É complexo...

Apesar de estar agora em um "grau superior" (segundo o reitor da universidade), ainda sou a mesma pessoa, e luto para manter minha identidade e autenticidade. Até porque é muito fácil, quando se sai de uma cultura mais tradicional e bastante mais rígida quanto a do sul, e se muda para dentro de uma cultura mais "deixe estar" como a do Rio, se deixar levar pela convidativa praticidade de não se esquentar demasiadamente com as coisas. O que é preocupante, pois quando não nos policiamos, facilmente comportamentos viciosos se tornam parte de nossa rotina. Comer demais e dormir de menos, por exemplo, são bons exemplos disso. Mas o pior é quando se trata de questões mais subjetivas, como os relacionamentos interpessoais. Neste campo, a postura "deixe estar" pode trazer prejuízos irreparáveis. E eu me importo com isso.

Por outro lado, a ausência de certas cobranças sociais, como a de ser uma boa dona-de-casa mesmo trabalhando fora, traz uma enorme sensação de alívio e bem estar. Como não preciso "provar" que sou prendada, voltei a desenvolver meu gosto por certas atividades domésticas como cozinhar e bordar, pois agora elas são apenas hobbies, e não mais obrigação. Se o resultado for bom, maravilha! Se não for, deixe estar... Minha auto-estima agradece!